Você é uma pessoa apegada?
Eu sempre acreditei ser bem pouco, pois meu ciclo social sempre foi pequeno e nunca tive nada material com tanto valor que não pudesse viver sem.
Mas nos últimos anos me descobri muito mais apegada do que eu imaginava.
Me vi tento que ir deixando pelo caminho coisas que eu gostava muito e garanto, nós só entendemos o tamanho do apego quando realmente temos que nos desfazer de algo.
E assim foi com amigos, moradias, objetos, hábitos, rotinas, amores e até minha identidade.
A mudança foi tão acentuada que em determinados momentos eu olhava no espelho e não me reconhecia.
Tudo tem um lado bom, quando você se vê sem nada do que tinha é obrigada a escolher um novo caminho para tentar outra vez. Mas a princípio somos resistentes e quando perdemos alí nos apegamos ainda mais aqui e acolá, a qualquer coisa que ainda nos de a sensação de segurança.
Na semana que minha mãe morreu tivemos uma conversa, era segunda-feira e ela chegou do trabalho chateada, conversamos em família por horas a fio e a conclusão foi: não importa o que acontecer enquanto estiver todo mundo junto e feliz estaremos bem !
Na sexta-feira ela estava morta e eu em choque, realmente não esperava passar por esta provação.
Minha mãe era extremamente religiosa e eu nunca fui muito de ter fé, deixava sempre na mão dela... torce por mim para (insira aqui o motivo do momento) e sabia que ela faria novena, trezena, promessa, etc... era tiro e queda. E assim eu seguia, ancorada pela fé no amor de mãe.
Sem ela eu me vi um pouco perdida e principalmente desprotegida, mas acho que faz parte das sensações a sentir após ficar órfã.
Mas a vida segue e a gente vai aprendendo a sobreviver e resistir.
Eu segui em frente com o mantra “lá na frente eu ainda vou entender o motivo disso tudo.“
Nestes 4 anos que se passaram me aprofundei em mim, fiz terapia, me formei psicóloga, analisei cada minuto de alegria e desespero, mas principalmente tentei não me entregar a ansiedade e ao desespero da mudança radical da minha vida.
Mudei de casa e de trabalho mais de uma vez, mudei quem era por dentro e por fora. Fui obrigada a ir deixando no caminhos amigos, lugares, lembranças, objetivos, vontades, desejos, vaidade, lagrimas e sorrisos.
E quando tudo é tirado de você gradativamente, como prosseguir?
Me aproximei da religião e ouvi categoricamente e sem rodeios “você já devia ter morrido“.
Ou seja, me tiraram também o tempo para planos a longo prazo e me agarrei a possibilidade do livre arbítrio, que eu acredito ser uma carta na manga ad aeternum. rs
E hoje, em uma ação banal e corriqueira (estava tirando uma foto de um por do sol maravilhoso, uma das poucas coisas que me faz agradecer diariamente o fato de estar viva), um fato muito simples me fez ter medo de perder e enfrentar mais uma mudança. E uma insight gigante aconteceu...
Será que ainda estou aqui apenas para aprender o máximo do desapego?
Eu estou lidando há meses com algumas crises de ansiedade e pânico por medo de perder as únicas três coisas que ainda me impulsionam...meu marido e meus filhos.
E talvez seja a hora de entender que ainda existe muito mais apego do que deveria.
Mas também acredito que é preciso apego a vida para seguir a diante.
Então deixo aqui a minha indagação... O quanto de desapego é necessário para se viver bem?
Estou voltando, mas não vou me apegar a datas. ;)