domingo, 30 de outubro de 2016

Um intervalo para aproveitar !

    Terça feira, 08/12/2015, Claudio tinha apresentação na igreja do colégio com o coral, eu e o Erick, como bons pais presentes e participantes, havíamos ensaiado semanas pra fazer parte das apresentações, tocando e cantando com eles. Mas tinha um "problema" chamado Teodoro, que percebendo que estava sobrando no evento não poupou escândalo para ser o centro das atenções dentro da igreja. 
     Vovó Cássia muito paciente saiu de cena com ele, que berrava tanto na rua que fui atrás, vi minha mãe tentando conter um bebê gigante, conversei com ela brigando pois não podia se esforçar e Teodoro é fortão, parei um táxi e coloquei os dois dentro, mandei pra casa, uma reta e em 5 minutos estariam bem.
     Ao final da apresentação liguei, ela me informou que Teodoro estava ótimo, já tinha comido e estava brincando, pediu pra gente seguir os planos e ir ao shopping ver o papai Noel e andar na roda gigante da decoração natalina. Claudio teve um resto de noite de filho único.
     Chegando em casa, todo mundo cansado, o combinado era pizza mas resolvemos deixar pro outro dia (Claudio tinha outra apresentação, dessa vez na Paulista) e comemos macarrão alho e óleo feito rapidamente pelo Erick. Eu, claro, tive reação ao carboidrato e me despedi da minha mãe sem levantar a cabeça, estava enjoada. Boa noite !
     No outro dia, meu primeiro de férias, não acordei com ela como todos os outros dias, fiquei dormindo e acordei pouco depois com um telefonema dizendo que ela havia passado mal na porta do trabalho.
"É uma AVC, corre pra cá que já chamei o SAMU". 
     O meu mundo começou a girar em sentido contrário neste momento e creio de verdade que ainda, quase um ano depois, não entrou nos eixos.
     O fato é que tínhamos planos, para aquela tarde e noite, para o fim de semana, para o Natal que estava próximo, até para o seu aniversário do próximo ano com o show tão esperado do Roberto Carlos.
     A vida estava programada, planejada, arquitetada... como poderia dar errado!?!?

    Falei com a minha mãe por alguns minutos no dia 9, depois cirurgia, cedação, UTI e choque cardiogênico.
          Não tive tempo de me despedir !
     Eu realmente acreditava que ela ia sair dessa, ela era uma mulher forte (apesar dela achar que a forte era eu) e sempre resolvia tudo, ia dar um jeito de ficar bem dessa vez também.
     Na verdade, isso foi a última coisa que pedi a ela "aguenta firme e fica bem".
     Era um pedido desesperadamente egoísta revelando apenas uma coisa...
         MEU MEDO DE FICAR SOZINHA !

     Entendam, sou filha única, criada por uma mãe super protetora e dependente de mim (sim é bem contraditório, difícil até pra minha terapeuta) e não sabia ser ninguém sem ela.
     Eu era a filha da Cássia e sem aviso me vi sem história (pra quem perguntar coisas da infância, receitas rotineiras, dúvidas existenciais) e sem metade de mim. Era uma simbiose, não era justo tudo acontecer sem aviso.
          O que eu fiz de errado?????
     Essa pergunta me assombrou por meses.
     Aos poucos fui lidando com o fato de que NADA acontece ao acaso e olhando para trás percebemos que tudo tem um razão de ser.
     Acredito muito que a morte da pessoa reflete ela em vida, pessoas boas demais morrem sem sofrer.
     Ela não sofreu, já eu...achei realmente que não ia aguentar, nem emocional, nem fisicamente. Cheguei ao limite da dor e descobri que existia mais estrada depois do fim. Era só eu querer continuar.
     Confesso sim que no início eu não queria. Não era egoísmo, era falta de capacidade mesmo, desespero.
     Mas os dias vão passando e a dor vai anestesiando a alma e vamos respirando meio que no automático, resistindo minuto por minuto, hora por hora, semana por semana.
     Tô aqui há praticamente onze meses.
  Tem dia que parecem onze anos, tem horas que parece onze minutos.
     O tempo na dor é bem relativo.

     Ontem assisti um filme pra passar o tempo da minha insônia persistente.
"Pronta para amar" resumidamente é a história de uma mulher que descobre um câncer terminal e se despede da vida, das pessoas que ama e dos seus medos, antes de morrer.
     Eu como boa estudante de psicologia entendi muita coisa dentro de mim.
     Em abril meu corpo começou a sofrer muito as consequências de tanta tristeza e cansaço, em junho estava muito doente, um médico mandava eu ir no outro, suspeita de "você tem o que sua mãe teve" até linfoma, misturada com "sinto muito não sei o que você tem".
     Eu torci para ser câncer. 
     Ontem entendi o por quê.
   O câncer te dá tempo para se preparar, lidar com todos os medos e escuridão, repensar a vida, se despedir de quem ama, etc. Dá tempo pra lidar com algo que sabemos que vai acontecer mas fingimos que não. Te faz encarar a morte olhos nos olhos.
Meu maior medo agora é morrer do nada, assim como minha mãe. Ou perder mais alguém da família assim, sem aviso.
     Claudio foi para terapia pois estava com o mesmo medo. É como o tal gato escaldado que tem medo de água fria, não dá pra ignorar o que aconteceu e viver tranquilamente achando que nunca mais vai se repetir.
     Só o tempo vai acalmar nosso coração, mas até lá ele é muita ansiedade por todos os próximos minutos e o que eles nos reservam.
     Estamos, aos poucos, entendendo que podemos relaxar um pouquinho, confiar de maneira bem iludida que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar.
      A gente vai se enganando e volta a fazer planos, a contar com o calendário como uma coisa certa, a deixar a pizza pro dia seguinte porque é preciso economizar.
     Mas lá no fundo sempre fica o medo de ser o último beijo, o último eu te amo, a última risada, o último boa noite.

      Volto a escrever aqui com calma, porque até pouco tempo não fazia sentido fazer nada, afinal não existia futuro.
     Porém vou preencher o espaço que me resta até o último dia com muito amor e espero que ainda muitos sorrisos.
      Porque do início ao fim, a única certeza que temos é o intervalo.

     Só uma dica, viver cada dia como se fosse o último causa uma ansiedade do kct e te impede de fazer planos para o futuro.
   Portanto, eu não recomendo essa máxima, mas recomendo que a gente sempre se despeça das pessoas como se fosse a última vez, porque no fim é a única coisa que conta de verdade.

Eu disse todos os EU TE AMO que podia.

Boa noite ! 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

2016

Chegou 2016 me mostrando 
como nunca antes na minha vida 
que é necessário ADAPTAR.

E nunca antes foi tão difícil conseguir !

Vai ser neste espaço que vou escrever pra não enlouquecer.
Aos poucos, porque falar sobre tudo tem sido exaustivo.

Não prometo nada, mas vou tentar