sexta-feira, 22 de julho de 2011

Dia nublado e um morango

   
Morangos à beira do abismo

Um homem ia feliz pela floresta quando, de repente, ouviu um urro terrível. Era um leão. Ele teve muito medo e começou a correr. O medo era muito, a floresta era fechada. Ele não viu por onde ia e caiu num precipício. No desespero agarrou-se a uma raiz de árvore, que saía da terra. Ali ficou, dependurado sobre o abismo. De repente olhou para a sua frente: na parede do precipício crescia um pezinho de morangos. Havia nele um moranguinho, gordo e vermelho, bem ao alcance da sua mão. Fascinado por aquele convite, para aquele momento, ele colheu carinhosamente o moranguinho, esquecido de tudo o mais. E o comeu. Estava delicioso! Sorriu, então, de que na vida houvesse morangos à beira do abismo…

"Hoje não há razões para otimismo.
Hoje só é possível ter esperança. Esperança é o oposto do otimismo. 
Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro. 
Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora, continuam as fontes a borbulhar dentro do coração. 
Camus sabia o que era esperança. Suas palavras: “E no meio do inverno eu descobri que dentro de mim havia um verão invencível”. 
Otimismo é alegria por causa de: coisa humana, natural. 
Esperança é alegria a despeito de: coisa divina. 
O otimismo tem suas raízes no tempo. A esperança tem suas raízes na eternidade. 
O otimismo se alimenta de grandes coisas. Sem elas, ele morre. A esperança se alimenta de pequenas coisas. Nas pequenas coisas ela floresce. Basta-lhe um morango à beira do abismo. 
Hoje, é tudo o que temos ao nos aproximarmos do século XXI: morangos à beira do abismo, alegria sem razões."

Rubem Alves. A possibilidade da esperança. (1999)

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